segunda-feira, 14 de junho de 2010

Correções de tradução bíblicas - Rm 16.7

Rm 16.7
ασπασαθε Ανδρονικον και Ιουνιαν τους συγγενεις μου και συναιχμαλωτους μου
οιτινες εισιν επισημοι εν τοις αποστολοις οι και.προ εμου γεγοναν εν Χριστω

“Saudai Andrônico e Júnias, meus parentes e meus co-prisioneiros, os quais foram notórios entre os apóstolos e que também estavam em Cristo antes de mim”.

Este texto bíblico é usado para argumentar que a mulher pode ocupar a função de liderança na igreja. Isso ocorre porque Júnias, no texto acima, tem sido confundido com uma mulher por ser um nome antecedido e terminado por “a”. Caso realmente seja uma mulher, os adeptos do ensino que a mulher pode ser pastor, encontrariam uma aparente prova nesse versículo, tendo em vista que o Apóstolo Paulo afirma que Júnias foi “bastante conceituado entre os Apóstolos” na maioria das traduções.
Mas vejamos se isso é confirmado num exame profundo do versículo em questão. Apresentarei cinco argumentos:

a) O verbo “saudar” em português, que traduz ασπασαθε apesar de ser um verbo transitivo direto, aquele que não pede uma preposição, pode às vezes ser preposicionado, como é o caso desse texto. Por isso, nas traduções o nome Júnias vem regido por um “a”, mas esse “a” não é o artigo feminino, como em “a gata”, “a menina”. Trata-se do “a” preposição, que não indica gênero, mas um aspecto verbal ligado ao verbo saudar, tanto é que Andrônico, que claramente é um nome masculino, vem também acompanhado da preposição “a”: “Saudai a Andrônico e a Júnias...”.

b) A palavra grega συγγενεις, traduzida por “parentes”, deve ser entendida como parentes de tribo. Ao que se percebe, Andrônico e Júnias eram da mesma tribo de Paulo, Benjamim (Fp 3.5), uma das mais conceituadas, juntamente com a tribo de Judá, depois da época do exílio babilônico, visto que as demais foram espalhadas depois do cativeiro da Assíria (2Reis 17.6-23), perdendo a língua hebraica e suas porções da terra santa, o que restou para elas foi apenas o consolo de visitar a cidade de Jerusalém nas festas judaicas (Jo 12.20; At 2.5). Com as conquistas de Alexandre, o Grande, juntamente com sua estratégia de difundir a cultura grega, o mundo do período de 300 antes de Cristo até 300 depois de Cristo viveu o período chamado helenístico, quando a língua grega passou a ser amplamente usada como língua comercial, desenvolvendo o dialeto chamado koiné (comum), que foi usado para se escrever o texto sagrado, tanto do Antigo (Septuaginta) como do Novo Testamento. Foi por conta dessa disseminação da cultura grega que as pessoas acabaram por adotar nomes gregos. Vejamos o caso do Apóstolo Pedro. Seu nome em hebraico é Simão, mas Jesus deu-lhe o apelido em grego de Pétros, que em aramaico é Cefas, e em latim é Pedro. Já o Apóstolo Paulo tem seu nome Saul em hebraico, em aramaico é Saulo, e em latim Paulo .
Andrônico e Júnias possuem nomes greco-romanos. O primeiro deriva da palavra grega “andros” que significa “homem”, e Júnias deriva do nome da deusa “Juno”, também conhecida por “Hera” na cultura grega. Ora, fica claro que tanto Andrônico como Júnias devem ter se convertido na festa de Pentecostes e influenciado na questão dos judeus de fala grega de Atos 6. Este texto mostra como foram escolhidos os diáconos. Todos, deve-se observar, com nomes gregos (At 6.5).
Em Jo 12.20-23, quando os judeus de fala grega procuraram Jesus, foram os Apóstolos que tinham nomes gregos que levaram a informação a Cristo (André, que significa “viril”, e Filipe, traduzido por “amigo de cavalos”), o que nos mostra tanto a forte influência da cultura grega na época de Jesus, como o preconceito que havia entre os judeus da tribo de Judá e Benjamim contra os seus irmãos de fala grega.
Andrônico e Júnias eram judeus como Paulo, da mesma tribo, provavelmente também nascidos em Tarso, e que tiveram o privilégio de se converterem em Jerusalém.

c) Como já foi dito acima, o nome Júnias deriva do nome da deusa “Juno”, que, apesar de ter a letra “o” no final, era um nome feminino. Isso deixa claro que o nome Júnias era masculino, tendo sido dado para homenagear a deusa greco-romana. Caso Júnias tivesse nascido mulher, seu nome seria simplesmente “Juno”, que para nós daria a impressão de ser um nome masculino. Todo o capítulo de 16 da carta aos Romanos está repleto de nomes de divindades e personalidades gregas. Temos Febe, que deriva do pré-nome do deus Apolo; Apeles; Herodião; Narciso, a divindade do amor-próprio ou da egolatria; Hermes, também conhecido por Mercúrio; Hermas, cidade que homenageava a Hermes; Júlia, derivado do nome do imperador romano Júlio; Olimpas que homenagea o monte Olimpo, lugar dos deuses gregos. Em alguns casos, como o de Febe, Hemas e Júlia, fica claro que o final da palavra alterava o gênero. É o caso de Júnias, que recebe um “a” para masculinizar.
Os nomes gregos não tinham dois gêneros comuns (andróginos), como ocorre hoje com alguns nomes, como Juraci (um nome indígena), que tanto pode ser de homem como de mulher. O único caso que conheço de um nome próprio que era diferenciado pelo artigo é o da vó de Timóteo, seu nome é Luís (a). As traduções têm vertido a forma grega Λωιδι (Louide) equivocadamente por Lóide, mas a forma que encontramos no texto sagrado é o adjunto adnominal de Λωις. Literalmente Λωιδι significa “de Luís (a)”, mas os tradutores apenas transliteraram (substituíram as letras gregas pelas portuguesas) nas traduções, tendo entrado para a história o nome Loíde, e, na pior das hipóteses, “Lóide”.

d) A palavra grega συναιχμαλωτους, traduzida por “co-prisioneiros”, é formada da junção da preposição grega συν (com) com o substantivo αιχμαλωσια (cativeiro, Ef 4.8; Ap 13.10). Isso pode nos levar a concluir que Paulo, Andrônico e Júnias estavam na mesma cela. Daí a dedução óbvia de que Júnias não poderia ser uma mulher, pois a justiça romana, que inspira a atual, não iria pôr numa mesma cela homens e mulheres. Em Atos 9.2, lemos que Paulo levava presos (verbo grego δε,ω que quer dizer amarrados, atados) tanto homens como mulheres para Jerusalém, mas isto não quer dizer que iriam serem lançados na mesma prisão os homens e as mulheres. Se, na lei de Moisés, era proibido o homem se vestir com roupas de mulher e vice-versa para não haver confusão, quanto mais colocar homens e mulheres numa mesma prisão. Além do mais, pôr homens e mulheres juntos numa mesma cela poderia aliviar os prisioneiros da abstinência sexual, o que, de forma alguma, se deseja para criminosos.

e) A palavra grega επισημοι, traduzida por “notórios”, ocorre apenas duas vezes no Novo Testamento, na referência de Rm 16.7 e em Mt 27.16, onde lemos: “Nesse tempo tinham um preso notório, chamado Barrabás”. Fica claro, comparando as duas passagens, que o sentido que Paulo queria dizer com εvπι,σημοι não era que Andrônico e Júnias pertenciam ao colégio apostólico, mas que apenas eram conhecidos pelos apóstolos.

Mas o que fez acontecer essa confusão com o nome de Júnias, se é de um homem ou de uma mulher?
Isso aconteceu por causa de uma variante textual do Novo Testamento grego, o Papiro 46, onde se encontra no lugar do nome masculino “Júnias”, o nome feminino “Júlias”.
Mas uma análise do Papiro é elucidativa. Primeiro precisa ser dito que o grego bíblico, o koiné, foi escrito inicialmente em caracteres maiúsculos, a chamada escrita “uncial”. Sabendo disso, fica simples descobrir o problema que houve. Em uncial o nome “Júnias” ficaria ΙΥΝΙΑΣ e facilitaria o sumiço do último traço da letra Ν grega, dando a impressão de se tratar do “L” grego maiúsculo que tem a forma da nossa letra “v” de cabeça para baixo: Λ.
Apagando o último traço da letra Ν do nome masculino ΙΥΝΙΑΣ, obteve-se: ΙΥΛΙΑΣ, um nome feminino.

11 comentários:

  1. Excelente artigo, fiz uso de seu artigo em meu blog e fiz uma peque adição.
    Mas coloquei o credito a seu blog.
    Que Elohim nos abençoe.

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  2. Amado, eu fiz uma pesquisa sobre nomes gregos e achei nessa pesquisa que o nome Junia ou Junias é um nome feminino no grego. O que vc me diz?

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  3. Na verdade
    Junias e para o masculino
    Junia e para o feminino.....mas Junia nunca foi um/a apostolo/a.... Eles Andrônico e Júnias foram bem conhecidos pelos/entre os Apostolos, ou seja todos os apostolos conheciam-os bem por serem um dos primeiros a receber Jesus depois do dia do pentecoste em Jerusalem

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  4. Gente olha a situaçao pra quem paulo fala..olha a igreja ..veja como tava aquela igreja..e outra se é so os homens entao cade os homens..agora oque aparece é so pra dizer que ñ pode..... me digam ai é errado uma mulher pregar a palavra e conduzir um povo a salvaçao?..

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    1. Sim é errado ,pois esse ministério foi dado aos homens,toda a liderança na bíblia é dada aos homens.O grande problema é que a sociedade moderna não quer se adequar a bíblia,mas que que a bíblia se adeque a ela.Isso é impossível pois não podemos mudar o que esta escrito.
      Queridos o Apostolo fala que eles estavam presos juntos,como poderia uma mulher esta no mesmo carcere que os homens?

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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    1. Caro amigo, não está em discussão o evangelizar, ou o ensinar a salvação, mas convenhamos que lideranças foi para os homens, Apóstolos, Presbíteros, Bispos, Diáconos. Outra coisa é que as mulheres devem ensinar as outras mulheres, como convêm as sagradas escrituras, pois Deus não vai cobrar delas a sua e a minha salvação. Se o tal irmão não evangeliza, não ensina e nem faz como manda as sagradas escrituras, não se preocupe Deus vai cobrar dele é isso que está escrito em Ezequiel 33. Agora usar esse argumento para poder distorcer ou mudar o que está escrito, e fazer igual Uzá em 1ªcronicas 13:8-10, a intenção dele era boa, mas estava completamente fora da palavra. Toda mulher tem seu valor nos ministérios, assim como as que acompanhavam a Jesus, mas na hora ele escolheu 12 homens, e os intitulou como apóstolos, e a cobraria deles, não das mulheres. Deus não quer saber de boa intenção não ele mesmo afirma Jeremias 1:12 que vela pela sua palavra. Outra coisa é querer afirmar que a palavra de Deus vai mudar com o tempo, pois foi isso que eu entendi no seu comentário Marcelo. A palavra de Deus não vai mudar porque as coisas estão difícil, ou porque aquela época era uma e agora estamos em outro século, pois é isso que algumas lideranças tem feito. Em 1 Crônicas 13:8-10 fizeram exatamente isso, também foram resgatar algo de muito importante que era a arca, e se encheram de boa intenção, mas prestaram atenção na palavra e nem a consultaram para ver se estava da forma correta, e uma pessoa morreu cheia de boa intenção. Temos que parar de tentar inventar uma forma, e começar a observar a palavra, pois tem religiões que tem feito isso melhor do que as evangélicas e nem por isso estão sem seguidores, ao contrário com mais seguidores e com mais prudência. Quando reparamos todo o conteúdo das escrituras e passamos a conhecer melhor o apóstolo Paulo, não é difícil saber que ele se refreia a homens, e que esses homens tinham sidos notórios pelos apóstolos, mas não que eles eram apóstolos. Pois como sabemos apóstolos só foram 12 e os 12 escolhidos por Cristo, ninguém tinha autoridade para escolher outro, ou consagrar outro, houve a exceção de Mathias para o lugar de Judas, mas de alguma forma precipitada, pois Cristo já havia escolhido Paulo.
      Como aconteceu logo em seguida, se confirmando que Paulo ocuparia aquele lugar, pois Paulo foi escolhido por Cristo assim como os outros. Então só criamos dúvida quando queremos fazer da nossa maneira, e resolvemos mudar a palavra.
      Achando que ela está ultrapassada, e que isso só valia para aquele tempo. Quando estudamos as escrituras, e deixamos de lado as influências da sociedade moderna, isso se torna bem mais claro e compreensível aos nossos olhos.

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  6. penso também que Paulo esteve em sua própria casa, e podia receber visitas, então de repente estar preso com Paulo era uma coisa boa: era estar em sua casa em oração e partilha pois eram todos prisioneiros em Cristo!

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  7. Se todo pecado fosse esse nas igrejas, seria uma maravilha, porque não fazem um estudo profundo da ordenança do dízimo no novo testamento, engole Camelo e engasgam com mosquito

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