domingo, 18 de abril de 2010

História da grécia

A. BREVE HISTÓRIA DO IMPÉRIO GREGO

Quando hoje alguém fala algo incompreensível, geralmente se diz que ele está falando grego. Essa menção do idioma nessas situações provavelmente refere-se a sua pronúncia, que muitas vezes chega a nos tirar o fôlego. Mas gramaticalmente o idioma grego não chega a ser nenhuma hidra de mil cabeças. Na época de Cristo era praticamente falado por todo o mundo. De tal forma que mesmo tendo sido a Grécia conquistada militarmente por Roma no ano III a.C., sua cultura se impôs à romana.

Até o ano 500 antes de Cristo existia um poderoso império: o dos medos e persas. Seus imperadores quiseram dominar as cidades gregas e durante meio século lutaram contra elas, infrutiferamente. São as famosas “guerras médicas”.

Dario, filho de Ciro[1], poderoso rei da Pérsia, havia conquistado já a Ásia e a África até onde começava o deserto e então só restava ante suas formidáveis hostes o território da civilização grega. A empresa parecia fácil: os gregos não constituíam um império unido, não tinham um governo central e forte, não tinham um exército unificado, viviam eternamente lutando entre si. O que Dario não previu foi a força que sempre têm os povos acostumados à liberdade sobre os povos que, ainda que aparentemente mais fortes e organizados, vivem na escravidão. Este é um fato amiúde confirmado pela história. E os gregos é um de seus exemplos mais luminosos.

A guerra começou no ano 500, com Dario à cabeça do exército, continuou depois com Xerxes e só terminou no ano 449, depois de meio século de vãs e tremendas carnificinas.

Quando Dario realizava sua primeira guerra contra os gregos, ocorreu o famoso episódio de Maraton, que logo ficou imortalizado pela corrida que ainda hoje de disputa nas olimpíadas.

Uma formidável frota de 600 naves havia desembarcado nas planícies da Ática, a sete quilômetros de Atenas, exatamente no lugar chamado Maraton, o grande exército com que Dario pensava exterminar os atenienses.

Assustados os atenienses pediram auxílio à Esparta, cidade que apesar de ter uma acirrada rivalidade com Atenas, era, afinal de contas, sua irmã. O homem que foi enviado em busca do ansiado socorro foi Feidípedes, campeão que havia vencido as grandes corridas olímpicas. Durante dois dias e duas noites este incansável corredor, atravessando vales e montes, numa distância de quase duzentos quilômetros, levou o angustioso apelo dos atenienses, que viam os persas avançando sobre sua cidade. Talvez por ressentimento, talvez por seus fortes sentimentos religiosos, que lhes impedia pôr-se em marcha até a hora do plenilúdio[2], os espartanos não marcharam logo em auxílio de seus irmãos de raça. Feidípedes levou de volta a desalentadora mensagem, pôs-se à frente de uma divisão de 10.00 homens e depois do formidável esforço que o havia levado até Esparta, teve de combater, à frente de seus soldados, contra os persas.

Nas planícies de Maraton os atenienses, em número infinitamente menor impuseram-se por fim aos invasores. E novamente o corajoso Feidípedes foi encarregado de levar uma mensagem desta vez aos aterrorizados cidadãos de Atenas, que tensos esperavam o resultado da batalha. Correndo sem descanso Feidípedes chegou à sua cidade e depois de exclamar: “Vitória! A vitória é nossa!” – morreu.

Dario morreu sem poder vingar aquela agourenta derrota de suas hostes. Xerxes, seu filho, se propôs conseguir uma ampla revanche, para o que preparou uma expedição temível e grandiosa.

Os persas, furiosos por suas perdas na batalha de Termópilas[3], assolaram o território da Grécia. Tebas foi conquistada, Atenas incendiada. Mas, quando tudo parecia perdido, a frota grega, que não chegava a ser nem a terça parte da inimiga, destruiu-a na baía de Salamina. Xerxes viu-se com seu formidável exército sem frota que lhe cobrisse a retaguarda e o aprovisionasse. Desanimado, depois de uma guerra tão longa e tão infrutífera, voltou à Ásia, com a metade de seus efetivos, enquanto o resto era derrotado em Platea.

O poderoso império persa chegava ao seu fim. Xerxes morreu assassinado e as rebeliões ocorreram nos mais afastados lugares do grande império.

O século e meio que se seguiu ao desastre persa foi, em troca, de esplendor para as cidades gregas, apesar da grande guerra civil do Peloponeso, que durante quase trinta anos dilacerou o território helênico. Durante esse período a Grécia chegou ás culminâncias do saber e da civilização. E Atenas foi o farol luminoso que dominava sobre ela. Péricles, seu grande governante, sobre as ruínas da guerra ergueu uma nova Atenas, mas formosa, mais harmoniosa, mais notável do que nunca. Ao seu redor juntaram-se os escultores, os arquitetos, os filósofos, os autores dramáticos, etc.

A guerra civil do Peloponeso aniquilou toda a Grécia, enquanto ao norte, na Macedônia, um povo grego meio bárbaro crescia e chegava a adquirir um poderio que chegaria à sua culminância com Alexandre, um dos guerreiros e homens mais extraordinários que existiu. Mas, primeiro digamos algo do que o precedeu.

Os macedônios não eram desconhecidos; mais de uma vez haviam participado nos jogos olímpicos e de vez em quando se ouvia falar desse país montanhoso que se estendia ao norte da península. Até que, no ano 359 antes de Cristo, começou a chamar a atenção, quando subiu ao trono um homem chamado Filipe. Este homem havia sido educado na Grécia e havia assistido à interminável e dolorosa guerra civil do Peloponeso. Muitas vezes pensou no que poderia conseguir no mundo uma Grécia unida e forte. E com esse pensamento em sua mente, voltou por fim à sua pátria e assumiu o poder.

Imediatamente reorganizou seu exército, sobre bases revolucionárias. Entre outras coisas inventou a cavalaria moderna – talvez daí se entende seu nome, Filipe (filos + híppico, aquele que é amigo de cavalos), ensinando a seus combatentes montados a combater em formação. Tanto ele com depois seu filho Alexandre deveram seus melhores triunfos a precisas cargas de cavalaria. O exército de Alexandre se movia em suas conquistas como se fosse uma cidade em movimento.

Em sucessivos triunfos, submeteu toa a Grécia a seu império. Então uma assembléia de todos os Estados Helênicos o designou chefe da Confederação contra os persas e no ano de 336 seus exércitos avançaram na Ásia para levar a cabo a ansiada expedição. Filipe foi misteriosamente assassinado, porém seu filho ia ser o homem que devia cumprir os seus desígnios visionários.

Filipe muito se havia preocupado com a educação de seu filho. Nada menos que Aristóteles, o filósofo mais importante do momento, havia sido encarregado de sua educação. A instrução militar recebeu-a desde criança e aos dezoito anos, na batalha de Querona, comandava a cavalaria de seu pai.

Aos vinte anos assumia o poder supremo. Formidável tarefa o esperava! E nunca, talvez, um jovem de tão pouca idade esteve tão incrivelmente à altura de suas obrigações. Sua carreira foi meteórica, audaz e quase lendária.

Em dois anos Alexandre consolidou seu poder na Grécia. Depois entrou na Ásia, derrotou os persas e conquistou a Ásia menor. Em seguida derrotou o imenso exército de Dario III. Conquistou Sidon e Tiro, assaltou Gaza, entrou no Egito e dali também desalojou os persas. Construiu Alexandreta e Alexandria. Marchou sobre a Babilônia e próximo das ruínas de Nínive travou a batalha decisiva contra Dario, derrotando os carros persas mediante cargas de sua invencível cavalaria. Conquistou Babilônia, Susa e Persépolis, onde fez incendiar o famoso e faustoso palácio imperial de Dario. Sem perda de tempo lançou seus exércitos sobre a Ásia Central e chegou até os últimos limites do extinto império dos persas. Alcança o imperador moribundo, assassinado por suas próprias hostes em seu carro. Contorna o mar Cáspio, sobe pelas montanhas do Turquestão, interna-se na Índia e derrota a Poro sobre o Indo, destroçando os corpos de elefantes, que pele primeira vez aparecem na história do Ocidente. Contrói barcos, desce até a foz do Indo, volta pelo litoral e chega de novo a Susa, depois de seis anos de correrias espetaculares. Trata então de organizar o império que tão vertiginosamente havia conquistado. Mas o jovem Alexandre havia se pervertido muito, amava com excesso o luxo persa, despertava demasiadas murmurações de seus austeros companheiros de armas. Depois de uma bacanal na Babilônia caiu com febre e morreu no ano 323, aos 33 anos de idade.

Alexandre não deixou nenhum herdeiro nem tão pouco havia designado alguém para suceder-lhe. Enquanto isso ficava em poder dos gregos um império que se estendia desde a Grécia até ao Indo e desde as cataratas do Nilo até o Cáucaso. Assim foi que os generais de seu exército disputaram a sucessão ao trono, provocando uma série de guerras que terminaram depois da batalha de Ipso, com o estabelecimento de quatro monarquias[4], sendo a mais importante a de Ptolomeu, no Egito. O centro cultural e científico no mundo grego transladou-se então para Alexandria, residência da dinastia ptolomaica. Ali viveram e dali surgiram os sábios gregos do período koiné. Foi nesse centro cultural que foi produzida a tradução grega do Antigo Testamento (a Septuaginta ou versão dos setenta), que foi a Bíblia que a igreja usou e que serviu como contra-argumentação para comprovar que os judeus alteraram os textos hebraicos comprobatórios do nascimento virginal de Cristo e de sua divindade (Justino, mártir – em Diálogo com Trifão e Irieneu de Lião – Contra Heresias). Foi ali também que houve a união da sabedoria hebraica com a filosofia neoplatônica, que providencialmente possibilitou a melhor compreensão daquele que é o mais profundo e importante ensino do cristianismo: a encarnação de Deus (Jo 1.1, 14, 18; Mt 1.23; Fp 2.6-8; Hb 1.3; Dt 18:15-19). E o que não dizer da famosa biblioteca de Alexandria, que, infelizmente, vários séculos mais tarde, foi destruída pelos mulçumanos. Diga-se de passagem foi a maior tragédia cultural da história, e que de certo modo põem em xeque a crítica dos mulçumanos que os textos da Bíblia foram alterados. Nela com certeza havia todos os documentos do mundo antigo, de textos clássicos a manuscritos do Antigo Testamento, que os teriam impedidos de criar essa crítica bem antes da descoberta dos rolos do mar morto, que por fim, pois em xeque-mate essa afronta desesperada dos muçulmanos.

O cuidado em difundir a cultura grega fez com que o grego fosse um idioma mundial, usado em quase todo império romano, que se seguiu ao grego. O grego passou a ser a língua comum do mundo civilizado, daí seu nome de Koiné[5], que significa “comum”. É este o idioma usado pelos escritores do Novo Testamento.

As letras e as artes gregas

Depois da derrota dos persas, produziu-se na Grécia, entre os anos 500 e 350 a.C. aproximadamente, o mais fecundo florescimento intelectual dos gregos e dos mais importantes de toda a história da civilização. Neste século de ouro viveram os maiores filósofos: Sócrates, Platão e Aristóteles; os mais geniais escultores: Fídias e Praxíteles; os trágicos mais ilustres: Sófocles e Eurípedes; o cômico mais hábil: Aristófanes; e os primeiros grandes historiadores: Herótodo, Tucídides e Xenofonte. Grande parte do mérito de haver criado em Atenas um ambiente tão propício para este florescimento é de Péricles, a ponto deste século de ouro ser chamado de época de Péricles, embora este tenha governado Atenas entre 460 e 432 a.C. Péricles dedicou grandes somas de dinheiro para embelezar a cidade, e assim foi que em poucos anos se levantaram sobre as velhas ruínas da Acrópole as obras-primas da arquitetura grega. Eram estas a capela da Vitória Áptera, o Ereteu, o Propileu e o famoso Partenon. Uma colossal estátua de bronze da deusa Palas-Atenas dominava o conjunto e outra estátua de ouro e marfim, obra de Fídias, embelezava o Partenon. Ao mesmo tempo, grande número de estátuas e monumentos ornavam as ruas; ao pé da Acrópole se levantava o templo de Teseu, o pórtico de Pécile, onde se conservavam as obras-primas da pintura, o teatro de Dionísio e o Odeon.

No terreno das letras, Sófocles, discípulo de Ésquilo, eleva a tragédia a seu apogeu e é sucedido, em seu caráter de grande trágico de Atenas, por Eurípedes.

Todos os livros do Novo Testamento foram escritos em grego. Mesmo o evangelho de Mateus que parece ser sido inicialmente escrito em hebraico, foi depois redigido em grego.

a) a descoberta do grego koiné

Mas o grego koiné não era o mesmo idioma que os escritores clássicos redigiram suas obras. Estes se valeram do grego clássico. Mas isso só foi descoberto no século 19.

É hoje bastante estranho para nós, mas por muitos anos pensou-se que a língua grega usada no Novo Testamento era a mesma língua usada pelos grandes filósofos

gregos antigos e pelos grandes autores da literatura clássica. Todas as traduções bíblicas antigas foram feitas baseadas nessa pressuposição. Julgava-se, assim, que as peculiaridades do grego neotestamentário decorriam das influências semíticas de seus autores, ou mesmo de uma suposta ação do Espírito Santo, o qual teria mudado por meio de uma revelação especial a língua com a qual os escritores neotestamentários escreveram os seus textos, transformando-a então numa língua divina.

Curiosamente, a descoberta de que o grego usado no Novo Testamento não era o mesmo grego usado pelos escritores clássicos e pelos filósofos antigos, ocorreu quase por acaso. Gustav Adolf Deissmann, de Marburgo, pastor e erudito alemão, encontrou na biblioteca da Universidade de Heidelberg (alguns autores divergem do lugar em que isso ocorreu) um volume de papiros do grego coloquial popular do séc. I d.C., que tinham sido recém-publicados. Lendo-os, ele descobriu, admirado, que a linguagem daqueles textos era muitíssimo similar à dos do Novo Testamento, iniciando em seguida uma série de estudos que o levariam a comprovar que a língua no texto grego neotestamentário era a mesma usada nesses outros textos,[6] ou seja, que o grego que foi usado na redação do Novo Testamento,[7] não era o ático (clássico),[8] mas sim o comum (koiné).[9] Note-se que grande parte dessas suas pesquisas foram publicadas em seus Bibelstudien, em 1895 e 1897, e num livro de sua autoria, intitulado Licht von Östen, de 1908.

b) os diferentes tipos de grego

O grego, que pertence à família das línguas indo-européias, é um idioma antiquíssimo. Seus mais antigos escritos remontam dos séculos XIV-XII a.C. e foram encontrados nas ruínas dos palácios de Cnossos, Mecenas e Pilos. Para se ter uma idéia do quão é antigo o grego que conhecemos, a Ilíada e a Odisséia, primeiras obras literárias escritas nesse idioma, datam aproximadamente do século IX a.C.

Como em qualquer língua humana, a língua grega antiga não era homogênea, mas sim heterogênea, e, por isso, possuía vários dialetos que conviviam entre si. Interessante notar que obras literárias como a Ilíada e a Odisséia trazem em seus relatos essa heterogeneidade e apresentam, por exemplo, traços tanto do dialeto jônico quanto do dialeto eólico.

A título meramente ilustrativo, poderíamos dividir os vários dialetos gregos antigos em cinco grandes grupos, citados a seguir ao lado das obras que os trazem:

Dialeto

Presença

O arcado-ático

Esse dialeto está presente apenas em inscrições antiqüíssimas

O jônico

Nos textos do historiador Heródoto

O ático

Nos textos de Platão, Xenofonte, Isócrates, Demóstenes

O eólico

Nos textos de Alceu e Safo (poetisa)

O dórico

Nos textos de Píndaro, Teócrito e Arquimedes

Nos tempos clássicos, havia ainda em locais isolados algumas línguas sobreviventes das pré-gregas: o eteocretense, em Creta, o lémnico, falado pelo povo nativo de Lemmos, e, em Chipre, o eteocipriota de Amatunte. O dialeto dórico, com as vogais abertas, era falado onde se dizia que os invasores dóricos tinham chegado, e os não dóricos destas áreas, mesmo que estivessem conscientes de ser racialmente distintos, usavam também o dórico. Os invasores tessalianos e beóticos trouxeram consigo o seu dialeto eólico. Na parte continental, os Atenienses, nunca dominados, retiveram o atico, o seu dialeto jônico, cujo prestígio literário conquistou por fim todo o mundo falante do idioma grego. O koiné dos tempos helenísticos era uma versão popularizada do ático. No Ocidente da Ásia Menor, a língua estilizada da poesia épica era elaborada, nunca um transmissor do discurso corrente. O que as pessoas falavam no Norte era o eólico, que os poetas de Lesbos utilizavam em suas canções, e o jônico em Samos, Quios e nas cidades jônicas costeiras. Esta foi a língua dos primeiros escritores de prosa. Os físicos da escola hipocrática, em Cós, e o historiador Heródoto, de Halicarnasso, escreviam em jônico, embora fossem dórios. Os dialetos do Nordeste do continente são conhecidos através de inscrições, mas não de literatura. Na Arcádia, sobreviveu um dialeto arcaico, com notáveis afinidades com o tipo de grego que os primeiros colonos tinham levado para o Chipre, cerca de 1200, e que continuaram a utilizar até meados do período clássico, com a sua escrita silábica antiga. No Pindo, havia pessoas que falavam uma língua ininteligível para os Gregos e comiam carne crua. Quanto à língua macedônica, estava relacionada com o grego (Grécia, berço de ocidente, volume1, pág. 21). Veja o mapa.

Cumpre notar que hoje o grego que é estudado nas universidades é geralmente o ático, que teve mais força, sobretudo nos séculos V e IV a.C., e que chegou até nossos dias em maior número de obras. O grego koiné se originou desse dialeto. Já o grego moderno, falado atualmente na Grécia, se originou do grego koiné. É preciso que se diga que a diferença do grego bíblico para o clássico concentra-se espeficamente no vocabulário. A parte gramatical diferencia-se principalmente na simplificação do grego bíblico em relação ao clássico. Na prática as diferenças são poucas.

O grego do Novo Testamento é simples em comparação com o clássico.

O valor do estudo do grego clássico para o bíblico está em que aquele é anterior a este, de modo que o estudo de vocábulos gregos para os estudantes de língua portuguesa deve passar necessariamente por essa ordem:

grego clássico – grego bíblico – latim – português.

E não como atualmente acontece nos dicionários disponíveis:

grego bíblico – alemão – inglês – português

Daí o valor de se aprender o grego clássico e o latim para se obter o rico e profundo significado das palavras gregas do Novo Testamento.

c) Os manuscritos do Novo Testamento Grego

A diversidade de manuscritos[10] do Novo Testamento Grego e as diferentes leituras variantes por conta de substituções de palavras por outras, ou as diferenças de tempos verbais de um manuscrito em relação aos outros, ao contrário de causar confusão ou de nos levar a escolher um manuscrito em detrimento de outros, como gostam de fazer as editoras e alguns eruditos, são coisas maravilhosas no trabalho de entender o que realmente os escritores do Novo Testamento queriam nos transmitir. Pois assim como as leituras variantes dos quatro Evangelhos nos ajudam a interpretar corretamente a mensagem de Cristo, as diversas variações entre os manuscritos também nos possibilitam a traduzir com melhor segurança o texto grego do Novo Testamento. A tese de usar ou favorecer um manuscrito em relação a outro está equivocada. Minha antítese é que todos os manuscritos do Novo Testamento deve ser usados cumulativamente em benefício da sinonímia e da tradução do texto sagrado do cristianimo.

A certeza obtida do significado das palavras do Novo Testamento por conta dessas variações de manuscritos das traduções que se seguiram (principalmente a latina) é plena e satisfatória. Pode-se dizer, sem paixão de fé ou qualquer suspeita de apelo religioso, que o texto do Novo Testamento é o mais bem resguardado da história humana, tanto no aspecto de documentos antigos como de certeza de significação vocabular. A profecia do Senhor Jesus registrada em Lucas 21.33 está cabal e perfeitamente cumprida, tanto nas coisas que disse que aconteceriam como pelo fato de suas palavras em si mesmas terem se conservado de modo seguro e indiscutível. Para mim, com filólogo, o estudo das palavras do Novo Testamento é sensacional, e como cristão bíblico, inabalável para minha fé (Rm 10.17).

Sei que muitos me julgarão piegas, mas não importa, Jesus Cristo merece todo louvor, glória, honra e poder, é o campeão de Deus, o Hércules da Bíblia e todo e qualquer elogio a Ele feito nunca será rasgado, mas será colado na insuficiência que as palavras da terra e do céu se limitam para devidamente o honrar como Ele merece. Suas palavras são fiéis, verdadeiras e atualíssimas, por isso merecem um trabalho mais primoroso na tradução e interpretação e aplicação.



1 Ed 1.1

2 Lua cheia

3 Onde os espartanos com cerca de quatro mil guerreiros, liderados por Leônidas e seus trezendos soldados, lutaram contra dois milhões de persas (historiadores modernos acham um número exagerado de Heródoto, considerado pai da história que registrou a batalha. Heródoto, que nasceu em 484 a.C. e tinha apenas 4 anos na época do confronto, realmente parecer ter enfeitado a contabilidade para melhor exaltar a glória dos gregos. Acredita-se no número de menos de 500.000 de soldados persas). Apesar de vencida a batalha, os persas tiveram uma perda de vinte mil soldados, dentre os quais dois príncipes persas, irmãos de Xerxes. Muitos dizem que aquela derrota dos gregos valeu por uma vitória. Segundo Heródoto “quando não havia mais chance de vitória, Leônidas, dispensou seua aliados gregos, mas não bateu em retirada com seus soldados, talvez ele queria reservar a glória da facanha somente para os espartanos”.

4 Dn 7.6; 8.8, 22; 11.3,4,

5 A pronúncia considerada mais correta é “koiné” com som aberto e não “koinê”.

6 Note-se que hoje em dia existem mais de 50 mil papiros como os que Deissmann encontrou, desde correspondências de família, cartas de amor, ordens a inquilinos, recibos de vendas, ordens de impostos, contratos de casamento e de divórcio, testamentos, escrituração de casas de família e de templos, registro de processos e julgamento nos tribunais. Esse grande volume de textos não deixam mais qualquer dúvida de que a linguagem grega usada na maioria dos livros do Novo Testamento era a mesma que era falada no dia-a-dia pelas pessoas em geral à sua época.

7 Cumpre notar, a propósito dessa questão, que o mundo bíblico de então, conforme Lc 23.38 e Jo 19.19,20, era um mundo no mínimo trilíngüe (grego-latim e hebraico para Lucas que escreveu aos gregos; hebraico-latim e grego para João, que endereçou seu Evangelho à igreja, constituída de judeus e gentios), sem falar que o hebraico da época era o aramaico, um dialeto originário daquele, veja o impacto que Paulo fez ao falar em hebraico antigo em Atos 23.1. Esse conjunto de idiomas convivendo em si facilitava sobremodo a troca de informações e mercadorias. A propósito, vale notar, por exemplo, que há até quem defenda (Robertson, Lightfoot, Young) que Jesus falava tanto aramaico quanto grego. A região da Galiléia onde ele passou boa parte do seu ministério era um centro de comércio gentio. Além disso, Jesus pregou nas regiões de Decápole (Dez-cidades),de Tiro e Sidom e conversou com uma mulher siro-fenícia (Mc 7:26).

8 Note-se, a propósito, que nem todos os livros da literatura bíblica de escrita grega usaram o grego koiné. O grego usado nos livros tidos por alguns grupos religiosos como apócrifos, tais como Sabedoria de Salomão, Epístola de Jeremias ou 2, 3 e 4 Livro de Macabeus, foi o literário helenístico, muito influenciado pelo aticismo, corrente literária que pregava o grego ático do período clássico como a única língua literária permissível.

9 Hebreus e Lucas são os únicos exemplos de um grego mais erudito entre os livros do Novo Testamento. O estilo do prólogo de Lucas apresenta, por exemplo, um texto tão bem elaborado, que é comparável ao grego literário de Heródoto ou de Tucídides (cronista da guerra da Peloponeso). Já o texto de Apocalipse é tido como o menos nobre estilisticamente de todos os livros neotestamentários. Note-se, a propósito, que o grego usado no Novo Testamento foi um grego bastante influenciado pela cultura judaica e pelo pensamento hebraico da época muito ligado ao neoplatonismo.

10 Cerca de 5.500 manuscritos.

Um comentário:

  1. Parabéns Luiz pelo interesse pelo Grego. Sou um estudante interessado também nesta maravilhosa língua. O artigo está ótimo, variado e embasado. Sou professor de Grego (com muitas limitações) num seminário. Gostaria de poder merecer atenção do irmão em algum material que puder ser compartilhado via email. Estarei me cadastrando no seu blog. Querendo acessar nosso blog será muito bem vindo também. Nosso email: jrlspastor@hotmail.com e nosso endereço no blog: www.joserobertolimas.blogspot.com. Uma abraço!

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